As mesmas respostas para os mesmos problemas

Mesmo longe do trópico, ando acompanhando atentamente os desdobramentos da greve dos caminhoneiros. Minha família e muitos amigos estão todos por aí, sofrendo com as consequências do desabastecimento, o que dispensa maiores comentários, pois imagino que todos estão sendo mais ou menos afetados por essa paralisação.

É claro que ver o portfólio diminuir abruptamente me aborrece. Mas já estou calejado o suficiente para aguentar o tranco de ver homebroker no vermelho. O que me abala pra valer é perceber o que está representado na essência dessa greve.

Pelo que entendi a partir do noticiário especializado: ainda no governo Dilma, entre outras soluções mágicas populistas, o contribuinte foi obrigado a bancar caminhões subsidiados para promover o ingresso de milhares de agentes econômicos no mercado de fretes, barateando artificalmente o custo do transporte. Como não existe almoço grátis em economia, a conta sempre chega - e agora, o povo terá que se virar de novo para bancar combustível subsidiado, isenção de tarifas e (livre mercado que se dane!) tabelas de frete artificialmente elevadas para sustentar uma massa de empresários e caminhoneiros desproporcional à demanda pelo serviço. Ou seja: se eu lucro, o lucro é meu; se tomo prejuízo, os outros que paguem meus boletos.

Creio que, apenas ontem, o povo que até então aplaudia os destemidos caminhoneiros acordou para a realidade e percebeu que será mais uma vez entubado.

O fato é que os caminhoneiros promoveram uma das maiores paralisações que o Brasil já experimentou e demonstraram ter uma força sindical de respeito, capaz de forçar mudanças de vulto na estrutura do nosso Estado mórbido e ineficiente. Na prática, porém, transformaram o país em Venezuela apenas para atender seus interesses imediatos, com as velhas respostas para os velhos problemas de sempre (vide imagem auto-explicativa a seguir).



A mesma redução de custos para os transportadores poderia ser alcançada como resultado de demandas contra corrupção, cargos comissionados, supersalários de servidores públicos, aposentadorias e pensões nababescas, subsídios, renúncias e isenções fiscais a agentes escusos. Havia momento e força suficiente para demandar medidas nesse sentido (mesmo que algumas poucas). O governo Temer estava à mercê dos grevistas.

Mas a pauta não tinha nada a ver com espírito republicano e comunitário. A pauta era arranjar uma teta do governo para mamar, assim como faz a corja da qual todos inflam o peito para criticar. Alguém que pague a conta para resolver meu problema, e o resto que se exploda! A ampla maioria dos sindicatos abandonou a greve tão logo recebeu um pacote de concessões adequado do governo. Agora, outros grupos capturaram o protesto para defender bandeiras difusas, pouco importando se o país vai para o buraco justamente no momento em que ensaiava uma recuperação.

O que me traz desesperança é perceber que, às vésperas da eleição, a maioria não quer lidar com a raiz do problema. Quase todos os candidatos à presidência correram para adotar posições populistas e criticar a nova política de preços da Petrobras. Na folha de são paulo de hoje, uma matéria mostra que "87% apoiam a paralisação, mas rejeitam pagar a conta". Ninguém quer abrir mão de privilégios, mas todos querem um Estado probo, barato e eficiente. Há um problema nessa relação de causa e efeito.

A conta não fecha há muito tempo, mas tudo indica que continuaremos a responder às distorções causadas pelo excesso de Estado com mais doses de intervenção do Estado, mais impostos e mais atraso.

Histerias político-partidárias à parte, alguém vê um candidato capaz de mudar esse status quo?

Peço desculpas pelo textão, mas é dose acompanhar tudo isso sem me posicionar a respeito.

Abraços a todos!



Comments

  1. é da Mascada, não tá fácil não. E como bem percebeu, não temos sequer um politico com propostas e principalmente manejo para mudar esse cenário.

    Desesperançoso por aqui viu...

    Abraço!

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    1. Oi Inglês! Melhor mesmo é usar essa percepção a nosso favor, proteger a carteira contra a volatilidade do Brasil e tentar explorar ao máximo as irracionalidades que brotam recorrentemente no mercado brasileiro.

      Abraço!

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  2. DM, muito bom seu texto. E, complementando, vejo isso refletido em diversas outras partes da vida do brasileiro.
    No mundo corporativo: todo mundo quer resolver o "seu" problema, dane-se se o coleguinho ao lado vai sofrer ou se vai ser pior para a empresa como um todo, o importante é ele aparecer e mostrar resultado.
    Nas filas de supermercado e filas em geral, no transporte público, na vida em sociedade: o brasileiro muitas vezes (não podemos generalizar) está preocupado com ele sair na frente e o resto que se dane.
    O que vemos hoje na greve dos caminhoneiros é um pouco do que vemos no nosso dia-a-dia mas que estamos "acostumados". A greve levou para outra proporção a maneira como nós levamos a vida, seja no trabalho, ou no âmbito social.

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    1. Olá IFM,

      Certamente não podemos generalizar, mas no Brasil esse comportamento diz respeito a mais pessoas do que se imagina. Como você relatou sobre o mundo corporativo, acho que o individualismo exagerado é um traço fundamental do Brasil. Ocorre que esse individualismo, que até poderia ter reflexos positivos, acaba vindo acompanhado por uma ética de trabalho muito frágil, que termina de estragar a equação. Não se exaltam, na grande mídia, exemplos de pessoas que vencem por dedicação em carreiras que demandem esforço e conhecimento. A tv globo gosta é de glamourizar subúrbio e mostrar o pessoal "se dando bem".

      Abraço do DM!

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  3. Não sei se são capazes de mudar esse status quo, mas João Amoedo e Flávio Rocha pelo menos pregam um estado mais enxuto e eficiente...

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    1. Assisti ao Roda Viva com Amoedo, ao menos ele parece vir de fora do mainstream político. Seria interessante ver um político genuinamente de direita assumindo o poder.

      Abraço, obrigado pela visita!

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  4. Replies
    1. Obrigado Invisível. Resumir talvez seja muita pretensão, porque esse assunto rende discussões infinitas. Mas acho sim que há certas verdades desconfortáveis que nós brasileiros preferimos não encarar ao olharmos para nós mesmos.

      Abraço do DM!

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