Vida longa à nossa finansfera!

Salve, pessoal!

Antes de mais nada, desejo um feliz dia da mulher, para minha esposa e para as leitoras do blog! Espero que chegue o dia em que a sensação de igualdade e respeito esteja tão arraigada que essa comemoração perca a carga política e se transforme em dia de homenagem às mulheres.

Iniciei o mês de março no vermelho, com ações duramente penalizadas pelo mercado. Aparentemente, o povo está desacreditado com o modelo de negócios de PRIO3, e muita gente teve mentes e corações reconquistados (quem diria!) por Eike Batista, com sua DMMO3 ex-OGX.

Na mesma levada, apanham FESA4 e minha querida UNIP6... Enxergando pelo viés positivo, a queda é mais significativa porque essas ações subiram forte nos últimos meses. Como compreendo, ainda que não completamente, o fundamento que embasa essas empresas, permaneço tranquilo. Na verdade, até com aquela coceira de querer aportar mais na carteira, mas agora o dinheiro novo está voltado ao exterior.

Se alguma lição eu aprendi desses primeiros dias de março, é a necessidade de ser mais ativo no controle do portfólio para rebalancear ativos que sobem desproporcionalmente em relação aos demais.

O urso andou esculhembando a carteira Mascada ultimamente. 
Apenas observo, e tento aprender alguma coisa - com a bolsa e com a infosfera

Pois bem, já que a bolsa não vem me animando esses dias, resolvi usar um tempinho livre de ontem para visitar e comentar os blogs dos colegas. Dá um certo trabalho (acompanho mais de 30 sites parceiros), mas sempre aprendo alguma coisa, e dou muita risada com alguns blogs de gente com talento narrativo.

Fuçando aqui e ali, às vezes vejo comentários de que a comunidade investidora brasileira está anos-luz de distância de blogs estrangeiros, que bom mesmo é o Mr. Money Mustache, e até alguns carregados de nostalgia lamentando a ausência de blogueiros que já não habitam a web.

Respeito quem pensa assim, e acho que até guardam um fundo de verdade. De fato, existem alguns sites estrangeiros com análises bastante sofisticadas, como os daqui nos EUA. Parei para refletir rapidamente sobre isso e deixo algumas premissas e uma conclusão que deveriam ser levadas em conta antes de se aplicar o complexo de vira-lata à nossa finansfera:

a) as principais praças financeiras globais operam há séculos. A bolsa norte-americana data do final do século XIX, quando o Brasil ainda era colônia. Em contraste, apenas 200 anos depois surgiria nosso Ibovespa;

b) como resultado de uma economia que amadureceu mais rapidamente, o mindset do investidor norte-americano é significativamente distinto do brasileiro. Um dia desses, minha esposa fez um comentário sobre algo que pode parecer trivial, mas é sintomático dessa diferença cultural: nos EUA, para se saber o salário de uma pessoa, costuma-se perguntar "How much do you make?" (Quanto você faz?, numa tradução aproximada). No Brasil, a mesma pergunta seria traduzida para "Quanto você ganha?". 

O mundo urbano brasileiro surgiu com o conceito enraizado de que sucesso é ter diploma e se encostar num emprego/cargo/Estado para garantir renda (veja qualquer obra de Machado de Assis). Ainda que nossa sociedade seja um organismo mutável, leva-se tempo para alterar o padrão fundador de nossa cultura. Por outro lado, nos EUA, quem quer melhorar de vida precisa correr atrás e está exposto, desde cedo, a uma competição ferrenha para se destacar. Por aqui não há espaço para a psicologia do oprimido. Seu crescimento e recompensa serão diretamente proporcionais ao seu esforço, seja qual for seu ponto de partida.

O jovem americano que vive em um centro urbano provavelmente está ocupado tentando empreender e gerar valor criando ou sofisticando algo; o brasileiro provavelmente está trancado numa sala de curso/faculdade, para melhorar o salário ou para passar em concurso público, ou seja, para ter renda através da venda de sua força de trabalho.

c) se a lógica do empreendedorismo e de "self-made people" ainda são incipientes no Brasil, isso também é verdadeiro no mundo dos investimentos, em que poucos encaram como a responsabilidade de tomar as rédeas de suas vidas financeiras. De quebra, o reduzido grupo que se aventura no mercado recém está abandonando a segurança que renda fixa proporcionava com gordas taxas de juros.

Conclusão: tudo o que escrevi pode soar como lugar-comum para alguns. Igualmente óbvia é a opinião de que somos atrasados em relação a outros países no ponto de vista de gestão da vida financeira. Somos uma comunidade ainda em maturação, e que deve ganhar mais adeptos ao longo dos próximos meses, conforme já percebo desde que iniciei na finansfera. São pessoas que compartilham nossa realidade e nossa cultura, e possuem muito mais capacidade de influenciar outros brasileiros do que alguém discutindo em qual REIT aportar.

Acho que apenas saímos ganhando com mais gente ocupada construindo seu próprio destino, e torço para que a finansfera influencie alguns poucos nesse sentido. Exemplos de gente bem-sucedida não faltam por aqui. Quem sabe, entre uma postagem e outra, não surge o nosso Sr. Money Mustache?

Grande abraço do DM a todos!







Comments

  1. Ótimas ponderações sobre a finansfera, confrade.

    Estamos atrasados em desenvolvimento em relação aos EUA e isso se reflete em tudo, inclisive na Finansfera.

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    1. Olá Stone! Exatamente, é preciso levar em consideração a influência do meio.

      Abraço, obrigado pela visita!

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  2. Boa reflexão Mascada!
    Pensei também que no mundo espanico se diz “quanto você cobra” me parece um meio do caminho.
    Abraço!

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    1. Verdade, esqueci dessa variante, Janota. A propósito, você mantém algum blog, além da página do google+? Abraço!

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  3. Bom texto Mascada!

    Acredito que vocês com patrimonio alto são importantes também para ajudar os mais novos, que estão no inicio do caminho.

    Você esta no meu blogroll.

    Abs.

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    1. Fala astro,

      Olha, acho que tão importante quanto valor de patrimônio é a filosofia que cada um mantém na sua trajetória de investimentos. O importante é o fundamento, eheheh! Tem muita gente que está hoje onde eu estava há 4 ou 5 anos, em termos financeiros, e tem muito mais a contribuir na finansfera.

      Adicionei seu blog também, abraço!

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  4. Vida longa!

    Endosso suas palavras. Já ouvi sobre essa diferença cultural do "make money" americano e do "ganhar dinheiro" brasileiro.

    Dadas as circunstâncias, fui mais um chimpa que seguiu o caminho do triste fim do policarpo quaresma e virei um funça no auge dos meus 20 e poucos anos. Quem sabe após acumular algum patrimônio eu consiga empreender em algo...

    Abraço

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    1. Oi CI! Talvez eu tenha sido meio áspero no post, mas respeito e entendo perfeitamente os motivos que levam pessoas competentes, no Brasil, a buscar o serviço público. Aqui no exterior, fica até difícil de explicar que se trata de uma posição super concorrida, mas no Brasil faz todo o sentido, comparando racionalmente com os valores praticados no setor privado.

      Abraço!

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    2. Não acho que vc foi áspero, foi certeiro e concordo com o que disse no post e tbm com o adendo desse comentário acima.
      Dadas as circunstâncias, a relação esforço/retorno me foram muito mais vantajosas no serviço público. Não há nada de especial em passar numa prova. Reconheço que é mera mediocridade elevada à máxima potência. Em um post de apresentação (https://investidorconcursado.blogspot.com.br/2017/10/porque-me-tornei-servidor-publico.html) já enfatizei esses aspectos da minha escolha pelo serviço público.

      Abraço!

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    3. Acho que ser aprovado em concursos públicos exige um patamar acima da mediocridade. O problema é que o serviço público tende a, gradativamente, transformar pessoas de excelente nível técnico em funcionários medíocres e um tanto acomodados, dada a natureza da atividade e a estabilidade do emprego. Abraço!

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    1. Valeu VC! O seu site é um excelente exemplo de conteúdo de alta qualidade e com temática distinta do que vemos por aqui. Obrigado pela visita!

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  6. Ja temos alguns MMM: Viagem Lenta e Viver de Renda

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    1. Eu adicionaria o Heavy Metal, e o Sr. IF365, que está contando os dias para formalizar a alforria.

      Abraço do DM!

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  7. Belo texto da Mascada!

    O make money definiu bem nossa situação. Aos poucos vamos mudando isso ai.

    Sobre a bolsa, faz parte do jogo. Quando empresa boa começa a apanhar, pode ser um oportunidade..

    Abraço

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    1. Oi Inglês! Imagino que você também vivencie esse contraste na prática. Muita gente acha que se trata de esnobar o Brasil por estar vivendo fora. A verdade é que, depois de um tempo, algumas diferenças ficam gritantes demais para ignorarmos.

      E quanto à bolsa, não tenho grandes receios em momentos baixistas. Confio nos ativos que selecionei em minha carteira. Hoje mesmo já tive uma bela recuperada.

      Abraço do DM!

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  8. Acho q temos muitos MMMs no país, o problema é que ninguém é louco de ficar postanto na internet q é milionário sem se esconder atrás de um pseudônimo.... isso dificulta muito reunir essa galera em eventos como eles fazem lá fora, penalizando muito a comunidade IF brasileira.


    Sr. IF365

    Blog IF365 | Acompanhe meus últimos 365 dias antes da IF e Aposentadoria Antecipada
    https://srif365.wixsite.com/if365

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    1. Olá IF365, acabei de mencionar seu blog num comentário acima.

      Muito bem colocado. No Brasil ainda existe aquele ranço de que é feio ser bem-sucedido, a pessoa praticamente precisa pedir desculpa se comentar que tem dinheiro.

      A propósito, lhe adicionei no meu blogroll, mas aparentemente "não foi possível detectar um feed" do seu site, por isso seu link fica sempre no final da fila.

      Abraço, valeu pela visita!

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  9. Feliz 2011 pra vc cara.

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    1. Já diria o Rubens Barrichello, eheheh.

      Obrigado!

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  10. Bom texto, DM!

    Existem várias formas de encarar suas constatações. Eu prefiro encarar pelo lado empreendedor. Quanto mais incipiente um mercado, mais oportunidades temos de ganhar diheiro com ele.

    Abraços

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    1. Verdade Enriquecendo, há oportunidades no Brasil e pouca gente disposta a explorá-las. Qualquer novidade costuma ser consumida avidamente pelo mercado. Abraço pra vc!

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  11. Ótimo post, pena que o empreender no Brasil é dificil por conta da burocracia do governo, isso desestimula muito, mesmo assim quem quer passa por cima disso também !!

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    1. Obrigado Stifler! Verdade, temos alguns exemplos na nossa finansfera de gente destemida que encara todos esses entraves. Abraco!

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